Eventualmente surgem filmes com uma proposta tão experimental que dividem a opinião da audiência, e Skinamarink é um deles. Muitos termos vêm à mente ao assistirmos a esse longa: creepypasta, found footage, backrooms; a lista é longa, mas o que todos têm em comum é sua existência nas plataformas online de vídeos. Portanto, não é coincidência que Kyle Edward Ball, diretor do filme, tenha passado cinco anos no YouTube com seu projeto Bitesized Nightmares, onde coleta relatos de sonhos marcantes que pessoas tiveram na infância e os transforma em vídeo. A estética found footage/backrooms é a que prevalece.
A pergunta que fica é: Qual o problema com essa obra? Há várias respostas pertinentes, mas tanto por experiência própria quanto por pesquisa online, é quase um consenso entre a maioria de que o grande erro de Skinamarink são os cem minutos de filme. Por ser um longa quase sem diálogo e composto por imagens que enfatizam apenas o cenário, é evidente que a obra funcionaria melhor no formato de curta-metragem.
E tudo fica mais interessante quando descobrimos que Ball, em seu canal do Youtube, já havia criado um curta-metragem muito parecido chamado Heck. É quase como se ele pegasse os trinta minutos de Heck e os esticasse para cem — o cenário parece o mesmo, vários objetos que existem em Skinamarink estão lá, como a televisão e os brinquedos. A estética é idêntica: 30 minutos de enquadramentos dramáticos com um filtro de imagem granulada, pouco diálogo e (quase) nenhum personagem em cena. O minimalismo extremo de Ball, infelizmente, condena a obra a algo que não vai muito além de uma creepypasta qualquer.
E digo infelizmente pois é inegável que o filme carrega ideias interessantes. Kevin e Kaylee, as duas crianças que nos são apresentadas, não possuem uma história com significado objetivo — no início, sabemos que o garoto sofreu um machucado na cabeça, o que pode indicar que tudo é apenas um pesadelo; porém, o filme também pode ser visto como uma metáfora para o abuso ou até mesmo para o medo que toda criança tem de perder seus pais.
Outro ponto a se considerar é a “entidade”. No decorrer do filme, percebe-se que as duas crianças não estão sozinhas: há uma terceira presença, não humana, que cria fenômenos na casa. Essa entidade quer controlá-los, e aparentemente ela própria tem a personalidade de uma criança. Ball confirmou que a inspiração para essa “entidade” seria o personagem Anthony, um antagonista presente em um dos episódios mais famosos da série Além da Imaginação. Anthony é uma criança com superpoderes, e ele faz uso das suas capacidades para manter as pessoas a sua volta sequestradas – qualquer um que não atenda a seus caprichos é mandado para “o milharal”. No remake de 1983, Anthony assiste ao mesmo desenho animado que vemos em Skinamarink.

O título Skinamarink deriva de “Skinnamarink”, uma música infantil popular no Canadá dos anos 1990, algo bem no estilo “Palavra Cantada”. Mas, ao contrário da música, o filme é sombrio, e mesmo que o roteiro ofereça vários caminhos para interpretação, todos eles levam a lugares que as pessoas não querem visitar.
O formato arrastado do filme gera a seguinte provocação: será que, se houvesse pelo menos um pouco mais de diálogo, ele teria conseguido se distanciar da “estética creepypasta”? Nunca saberemos, e agora que Ball captou muitos recursos com o sucesso que o longa teve nas redes sociais, podemos apenas esperar que seus próximos projetos sejam mais maduros. Afinal, o gênero de terror pede por grandes nomes, com grandes ideias.



