É com uma fala de Lorde Cigano, um dos personagens mais icônicos da filmografia de Cacá Diegues, que se inicia o documentário de Karen Harley e Lírio Ferreira: “Para Vigo Me Voy!” faz um belo trabalho de pesquisa da historicidade da carreira de Diegues, com dezenas de imagens retiradas tanto de arquivos pessoais quanto de arquivos de canais nacionais e estrangeiros. A raridade dessas gravações atesta a profundidade da pesquisa feita, afinal muitas delas não se encontram na internet, e essa colagem visual feita pelos diretores já é em si um dos motivos para assistir o documentário.
A obra faz um apanhado dos principais filmes de Diegues dentro de uma ordem razoavelmente cronológica, sendo assim somos levados de Ganga Zumba, quando o diretor residia no núcleo do Cinema Novo, passando pelos grandes sucessos dos anos 1970 como Quando o Carnaval Chegar, Xica da Silva e Bye Bye Brasil, até chegarmos nos seus título mais contemporâneos e não menos importantes, como Quilombo, Tieta do Agreste, Orfeu e Deus É Brasileiro. Eventualmente temos falas de Diegues comentando sobre suas obras, e não demora muito para percebermos que o único problema do documentário é a falta de storytelling: a ausência de um narrador (ou então, de trechos com mais diálogo) impede que cada tema seja explorado com maior profundidade.

No início do longa somos transportados aos anos 1960 com imagens de Diegues ao lado de grandes nomes do Cinema Novo como Glauber Rocha, Nelson Pereira dos Santos, Ruy Guerra, Arnaldo Jabor, entre outros, mas pouco se fala da relação de Diegues com seus contemporâneos. Um ponto que é tratado com mais de detalhe – devido a quantidade de vídeos históricos – é o exílio de Cacá na Europa, durante a ditadura. Já o tema da luta pela representatividade negra também é presente e se debruça sobre cortes de filmes como Xica da Silva, Quilombo e Orfeu, com algumas falas contextualizadoras aqui e ali.
Se você é alguém que ama a história e filmografia de Cacá, Para Vigo Me Voy! traz pouco mais do que algumas imagens inéditas do diretor, nada é tratado com profundidade, e a obra funciona apenas como uma homenagem a ele. Para aqueles não tão familiarizados com a biografia do diretor, Para Vigo Me Voy! é um excelente ponto de partida para entender esse que é um dos maiores cineastas nacionais.



